O governador Eduardo Leite e a secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, informaram na tarde desta quinta-feira (23) que existe um “surto” de contaminação por coronavírus na região de Passo Fundo, cidade polo que registra números significativos de infectados e mortos, atrás apenas de Porto Alegre.
O município está com 59 casos confirmados e seis óbitos. A vizinha Marau, distante pouco mais de 30 quilômetros, também registra números elevados: são 31 testados positivos e um óbito. A expressão surto costuma ser usada quando novos casos de uma doença se concentram em determinado local ou região.
Arita disse que a Vigilância em Saúde analisa o surto e que uma nota informativa será emitida ainda nesta quinta. A secretária informou que essa nova onda de infectados na região acomete “trabalhadores jovens”. Em Passo Fundo, a indicação é de que o foco de transmissão teria ocorrido em uma grande indústria, mas não foi revelado nenhum nome.
Além disso, o fato de Passo Fundo ser um polo regional de saúde é apontado como outro motivo possível para a maior circulação do vírus.
— Muitos pacientes são referenciados para cá, vários municípios da região dependem daqui. Alguns dos óbitos de Passo Fundo, eventualmente, podem ter se originados nesses vizinhos que aqui buscam atendimento para os casos graves. Temos outros focos importantes na região, como Marau. Se falarmos de procedimentos de alta complexidade, Passo Fundo é referência para uma área de 1 milhão de habitantes — diz Julio Cesar Stobbe, professor da Faculdade de Medicina e diretor do campus da Universidade Federal da Fronteira Sul.
A cidade de Passo Fundo tem dois hospitais de referência para o atendimento da pandemia: o Clínicas e o São Vicente de Paulo.
Outra possível razão para o alcance da pandemia na cidade é a sua característica econômica.
— A cidade é movida pelo polo da saúde, prestação de serviços e comércio, não tanto na indústria. Há, portanto, uma pressão maior pela retomada do comércio, que ocorreu na sexta-feira anterior, algo que entendo como temerário. E muita gente que mora em Passo Fundo trabalha na indústria em cidades vizinhas. Essa ida e volta e mais a força do comércio criam uma circulação de pessoas muito grande, que pode ter contribuído — avalia o deputado estadual Mateus Wesp (PSDB), que é de Passo Fundo.
A possível maior realização de testes da covid-19 no município também é levantada como hipótese para os números.
— Neste sentido, eu concordo com a percepção do prefeito (Luciano Azevedo). Ele diz que Passo Fundo faz um grande número de testes em pacientes. Tem muita cidade pequena que praticamente não faz teste. Isso é uma realidade, e temos dois hospitais grandes aqui na cidade, o Clínicas e o São Vicente de Paulo. Toda a região cai nesses hospitais, e ambos realizam os testes. É uma percepção com a qual concordo — diz Paulo Ferenci, presidente do Hospital de Clínicas de Passo Fundo.
Além de Marau, o município recebe pacientes de outras cidades relevantes, como Soledade, Carazinho e Erechim, entre outras.
Prefeitura também busca respostas
Com a confirmação de mais duas mortes por coronavírus na quarta-feira (22), o município de Passo Fundo, no Norte gaúcho, chegou a seis óbitos em menos de um mês. Desde o dia 9 de abril, quando o primeiro paciente morreu pela doença, a prefeitura vê o número de casos aumentar e preocupa-se com a rapidez com que o vírus tem avançado.
O Executivo ainda não tem respostas concretas, mas já vê diferentes possibilidades para o contágio acelerado. Uma das respostas, conforme também anunciou o governo estadual, pode passar por um surto identificado em uma empresa da cidade. Segundo a secretária da Saúde, Carla Gonçalves, pelo menos seis casos foram confirmados, e dois familiares de trabalhadores do local morreram.
Os primeiros casos não foram confirmados na empresa, mas a secretária teme que a grande circulação de pessoas tenha ajudado a espalhar:
– É uma empresa que emprega um grande número de funcionários, e nós estamos tentando identificar, com a ajuda de outros setores, se houve algum tipo de negligência. Nós fizemos visitas ao local e identificamos problemas, como grande circulação de pessoas sem medidas preventivas e aglomerações.
Além do surto em uma empresa, um conjunto de outros fatores também é levado em conta na hora de entender por que o vírus avançou tão rapidamente – a cidade é a segunda com maior número de casos e mortes no Estado. Uma das explicações passa pela interdependência e proximidade de cidades próximas com Passo Fundo, funcionando como uma espécie de região metropolitana, com constantes deslocamentos. A outra tem relação com a idade das pessoas doentes:
– A circulação de pessoas é muito intensa, e acredito que isso possa ter influência nesta disseminação. Um dos casos de Passo Fundo era de um familiar de um morador de uma cidade próxima. Outra questão importante é que as pessoas doentes são economicamente ativas, ou seja, trabalham em setores essenciais que não tinham parado. Isso acaba influenciando na circulação do vírus – diz a secretária.
A prefeitura lembra que tem uma ampla taxa de testes: 170 por 100 mil habitantes. A média é maior do que a de outras cidades ligadas à da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde, de 87 por 100 mil habitantes.
– Passo Fundo e Marau, que tem uma morte confirmada, são os municípios que se destacam negativamente na região. Estamos fazendo uma avaliação das ações a serem tomadas e ainda não sabemos o que pode ter causado isso tudo. Ainda é cedo para identificar relação com a abertura do comércio – afirma o coordenador regional de Saúde, Marcelo Pacheco.
Os pacientes que morreram tinham entre 61 e 89 anos e histórico de doenças (veja o perfil abaixo). Além de seis mortes, a cidade tem 59 casos confirmados, de acordo com o último balanço da Secretaria Estadual de Saúde.
Perfil das mortes, conforme a prefeitura:
Primeira – mulher de 61 anos com histórico de diabetes e hipertensão.
Segunda – homem de 89 anos com histórico de doença pulmonar e Alzheimer.
Terceira – mulher de 79 anos com histórico de acamada
Quarta – mulher de 69 anos, com histórico de diabetes e hipertensão.
Quinta – homem de 88 anos, com histórico de hipertensão.
Sexta – mulher de 73 anos, com histórico de cardiopatia e diabetes.
*As informações são da GaúchaZH.