* Por Maria Reci Rodrigues
1 INTRODUÇÃO
As razões que levaram a escolha deste tema foram a minha identificação pelo mesmo e a necessidade de aprofundamento como futura educadora, por entender que a alfabetização e letramento serão conhecimentos importantes na minha profissão, seja como docente ou gestora de Escola da Educação Básica, já que tenho um breve conhecimento da função, pois tive o privilégio de atuar como gestora em uma Escola Estadual de Ensino Fundamental por dois anos e meio e a partir da conclusão deste curso pretendo atuar como educadora.
O trabalho pedagógico que envolve o aprendizado da leitura e da escrita tem sido constantemente abordado entre professores e pesquisadores da área em diferentes momentos da história da educação brasileira.
Inicialmente o processo de alfabetização foi compreendido como, sistematização do “B+A=BA”, isto é, como a aquisição de um código fundado na relação entre fonemas e grafemas que, articulados entre si, formam palavras, frases e textos. Por este motivo, para muitos adultos, a aquisição do sistema de notação alfabético parece ser uma tarefa simples. Uma vez denominada a sequência de letras estáveis, seu traçado e nomeação, bastaria para que, combinando-as, o sujeito fosse considerados alfabetizados.
A partir dos anos 80, o processo de alfabetização escolar no Brasil começou a passar por novos questionamentos fundados na necessidade de se compreender o funcionamento do sistema alfabético de escrita e de saber utilizá-lo em situações reais de comunicação.
As pesquisas de Ferreiro e Teberosky (1985) sobre a psicogênese da língua escrita contemplaram de grande notoriedade ao mostrar que o aprendizado de escrita não se reduziria no mero domínio de correspondência entre fonemas e grafemas, mas, como um processo ativo por meio do qual, desde os primeiros contatos com a escrita, a criança construiria e reconstruiria hipótese sobre a natureza e o funcionamento enquanto sistemas de representação da linguagem.
A partir da divulgação da psicogênese da língua escrita, o enfoque construtivista, defendido pelos mesmas autoras, tornou-se um dos mais influentes na elaboração das propostas de alfabetização desde então, pois, além de exporem que a criança passa por diferentes níveis de evolução conceitual durante o processo de apropriação de leitura e da escrita, Ferreiro e Teberosky (1985), mostram que o aprendizado da escrita ocorre de modo evolutivo. Em suas pesquisas ainda defenderam que ler e escrever são atividades comunicativas e que devem, portanto, ocorrer através de textos reais.
2 DIFERENÇA ENTRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
O que é letramento?
É uma palavra recém-chegada ao vocabulário da Educação e das Ciências Linguísticas; Seu uso ocorre pela primeira vez na segunda metade dos anos 80, essa palavra surge no cotidiano do especialista dessas áreas. Um dos primeiros surgimentos está no livro de Mary Kato de 1986 (No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística): a autora cita que acredita que a língua falada culta “é consequência do letramento”! Depois de algum tempo em outro livro (Adultos não alfabetizados: o avesso do avesso, 1988), Leda Verdiani Ifouni, cita uma introdução, que distingue alfabetização de letramento tendo ganhado estatuto no campo da Educação e das Ciências Linguísticas.
O letramento trata-se de uma palavra da língua inglesa literacy. O letramento não é necessário o resultado de ensinar a ler e escrever. É o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita (Soares, 2003). Ler e escrever, envolver-se na prática social da leitura e da escrita, tem consequências sobre o indivíduo e alteram seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos.
O letramento envolve fenômenos bastante diferentes, a leitura e a escrita: ler é um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem desde simplesmente decodificar sílabas e palavras; escrever é também um conjunto de habilidades e comportamentos que se estende desde simplesmente escrever um texto de forma adequada a um leitor competente.
O sujeito alfabetizado apenas consegue decifrar os símbolos do código alfabético, porém o indivíduo letrado é aquele que faz uso no seu cotidiano desse sistema enriquecendo sua qualidade de vida.
O importante é perceber que alfabetizar e letrar são processos distintos, porém interligados. Como afirma Magda Soares (2003), é possível alfabetizar letrado, isso é, podemos ensinar as crianças a ler, conhecer os sons que as letras representam e ao mesmo tempo se inserir ao método científico da alfabetização diante da escrita ao processo de ensino.
3 O SIGNIFICADO DO APRENDER A LER E A ESCREVER
Ao permitir que as pessoas cultivem os hábitos de leitura e escrita e respondam aos apelos da cultura grafoecêntrica, podendo inserir-se criticamente na sociedade, a aprendizagem da língua escrita deixa de ser uma questão estritamente pedagógica para que represente o investimento na formação humana. Nas palavras de Emília Ferreiro (2001), a escrita é importante na escola, porque é importante fora dela e não ao contrário.
Retornando à tese definida por Paulo Freire, os estudos sobre o letramento reconfiguraram a conotação política de uma conquista – a alfabetização – que não necessariamente se coloca a serviço da libertação humana. Muito pelo contrário, a história do ensino no Brasil, a despeito de eventuais boas intenções e das “ilhas de excelência”, tem deixado rastros de um índice sempre inaceitável de alfabetismo agravado pelo quadro nacional e baixo letramento.
Magda Soares, no final da década de 80, também já apontava para a necessidade de se diferenciar o que ela chamava á época, de processos de aquisição da língua escrita (dominar a língua escrita) e processo de desenvolvimento da linguagem escrita (domínio da língua escrita associada com as práticas sociais). Corroborando com as ideias expostas, Ferreiro (2007) afirma:
Ler e escrever são construções sociais (…). Cada época e todas as circunstâncias históricas dão novos sentidos a esses versos. (…) Mas a escola (…) continua tentando ensinar uma técnica (…) técnica do traçado das letras, por outro lado, a técnica da carreta oralização do texto. Só depois de dominada a técnica é que surgiram como num passe de mágica, a leitura expressiva (resultado da compreensão) e a escrita eficaz (resultado de uma técnica técnica posta e serviço das intenções do produtor) (FERREIRO apud COLELLO, 2007 p.92).
4 ALFABETIZAR, LETRAR E ENSINAR A LINGUAGEM ESCRITA É TAREFA DA ESCOLA
Considerando que cabe ao processo de escolarização, inserir os alunos na cultura escrita, ensinando-as operar com os elementos que se constituem nas manifestações da linguagem, pretende-se realizar alguns apontamentos levantando questões que se consideram mais urgentes, no que diz respeito, ao desenvolvimento do trabalho pedagógico acerca do aprendizado da leitura e da escrita articuladas com as práticas do letramento, com as crianças de cinco, seis ou sete anos, esperando que ao serem realizadas devam ser respeitadas as especificidades de cada idade.
É importante ressaltar que no âmbito da alfabetização o termo aparece como uma necessidade de caracterizar e diferenciar os estágios e os usos da apropriação da linguagem (oral/escrita) na sociedade. Sendo assim, o alfabetizado é o sujeito que sabe ler e escrever, diferentemente do “letrado” que além de ler e escrever faz uso social da leitura e da escrita, ou seja, responde às exigências sociais de leitura e da escrita que a sociedade faz continuamente. (SOARES, 2001, p.21).
Por outro lado, sabe-se que a escola, instituição responsável por introduzir formalmente as crianças no mundo da escrita, acaba, conforme aponta Kleiman (2005) “não priorizando o letramento enquanto prática social e se preocupando em demasia apenas com a aquisição da língua escrita como forma de sucesso e promoção escolar” (KLEIMAN, 2005, p.51).
Ter em vista a concepção do letramento como um elemento norteador para o trabalho pedagógico na alfabetização, significa superar a compreensão da linguagem, escrita, representação da linguagem oral interpretados aos alunos como um processo sistematizado e mecânico de codificação e decodificação dos signos linguísticos, mas, proporcionar a vivência cotidiana de práticas letradas, que permitam ao estudante se apropriar das características e finalidades dos gêneros discursivos escritos que circulam socialmente.
Outro aspecto que precisa ser considerado é que as crianças não chegam às escolas com as cabeças vazias, ao contrário, suas mentes estão repletas de ideias, de hipóteses, de comunicações teóricas e valores que são arraigados com os elementos que circulam em sua cultura e por este argumento é que se faz necessário, primeiramente, levantar junto com os alunos que sabe, ou não sabem sobre a escrita e suas funções através da realização de uma sondagem inicial.
Defende-se aprender a ler, significa aprender a decifrar a escrita, então, para saber decifrar a escrita, é preciso saber como os sistemas de escritas funcionam e quais seus usos como a escrita é uma forma gráfica da representação da linguagem oral, é necessário estudar os mecanismos da produção da linguagem oral, quais são seus usos, e ainda, como a linguagem oral se relaciona com a forma escrita que a representa, num contexto culturalmente específico da sociedade moderna vivenciando a linguagem nas suas várias possibilidades, pois é no movimento das interações sociais e nos momentos das interlocuções, a linguagem se cria se transforma, se constrói como conhecimento humano, sendo assim é fundamental que a organização da sala de aula se torne um ambiente propício para a apropriação da linguagem e seus usos. De acordo com Cagliari (2009, p.89) “cabem aos professores, apresentarem a escrita aos alunos, não apenas como um objeto de conhecimento, mas como forma de linguagem que é constitutiva do conhecimento na interação”.
Por outro lado a alfabetização já não é mais uma tarefa exclusiva e única do professor, mas é compromisso de toda escola e também da própria sociedade. Atualmente o desafio é de que todos, em parceria, trabalhem juntos produzindo didáticos de alfabetização que realmente ensinem e não permitam a criança ou o jovem sair da escola sem este conhecimento tão necessário para sua interação no mundo letrado comandado pela linguagem.
A alfabetização precisa estar centrada na compreensão e comunicação, levando em conta o processo, modo de aprendizagem das crianças e de cada criança, pois como afirma Demo (2007, p. 700): “A questão fundamental é de aprendizagem a partir das crianças. Assim a leitura não pode ser ensinada para as crianças. A responsabilidade do professor não é a de ensinar as crianças a ler, mas tornar a aprendizagem possível”.
Independente do projeto que esteja sendo desenvolvido na escola é importante que haja uma abertura para o professor e a criança desenvolverem a alfabetização propriamente dita, desde que tenha sentido para a criança.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo não se esgota, procurou apenas responder as questões e os objetivos propostos. Sugere-se, dessa forma, que outras pesquisas sejam efetuadas no campo da alfabetização, a fim de complementarem os resultados obtidos neste trabalho.
Sem a pretensão de esgotar o tema, a breve análise o impacto e contribuição dos estudos sobre letramento aqui desenvolvida aponte para a necessidade de aproximar, no campo da educação, teoria e prática. Na sutura entre concepções, implicações pedagógicas, reconfiguração de metas e quadros de referência, hipóteses para transformação da sociedade leitora no Brasil, uma realidade politicamente inaceitável e, pedagogicamente aquém de nossos ideais.
REFERÊNCIAS
CAGLIARI, C. Alfabetizando sem o ba-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 2009.
COLELLO, S. A escola que (não) ensina a escrever. 2. Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
CURTO, L. MORILLO, M. TEIXIDÓ, M. Escrever e ler: como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las e a ler. Trad. Ernani Rosa Porto Alegre, Artmed, 2000.
DEMO, Pedro. Leitores para sempre. 2º Ed. Porto Alegre: Mediação, 2007.
FERREIRO, E. Reflexões sobre alfabetização. Trad. Maria Cruz Costa Magalhães. São Paulo: Cortez editora, 1985.
______. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Trad. Luiza Maria Silveira. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.
______. Alfabetização em processo. 14. Ed. Trad. Maria Cruz Costa Magalhães. São Paulo: Cortez editora, 2001.
FERREIRO, E. TOBEROSKY, A. A Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.
KLEIMAN, A. Preciso ensinar o letramento? Não basta ler e escrever? Linguagem e Letramento em foco. CEFIEL/IEL/UNICAMP, Campinas, 2005.
SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2 Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
______. Letramento e Escola: uma perspectiva social 17. Ed. São Paulo: Ática, 2003.
TAFNER, Elisabeth Penzlien. DA SILVA, Everaldo. Metodologia do trabalho Acadêmico. Associação Educacional Leonardo da Vinci (ASSELVI). Indaial: Ed ASSELVI, 2008.
DEMO, Pedro. Leitores para sempre. 2º Ed. Porto Alegre: Mediação, 2007.