* Por Marilia Jandrey Pereira
Introdução
A alfabetização é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento educacional e social de uma nação. No Brasil, esse processo enfrenta inúmeros desafios, desde a desigualdade social até a formação docente e a estrutura das políticas educacionais. Embora haja avanços em programas de alfabetização, os índices de crianças com dificuldades na leitura e na escrita ainda são alarmantes. Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a alfabetização deve ocorrer preferencialmente nos primeiros anos do Ensino Fundamental, garantindo o direito ao aprendizado da leitura e da escrita significativamente (BRASIL, 2018).
Este artigo busca discutir os principais obstáculos enfrentados na alfabetização brasileira e refletir sobre possíveis soluções para garantir uma educação de qualidade para todos.
Desafios no Processo de Alfabetização
1. Desigualdade Social e Acesso à Educação
Um dos principais desafios da alfabetização no Brasil é a desigualdade social, que impacta diretamente o acesso à educação de qualidade. Crianças em situação de vulnerabilidade, especialmente em regiões periféricas e rurais, frequentemente enfrentam dificuldades para frequentar a escola regularmente. A falta de materiais didáticos adequados, a carência de bibliotecas e a precariedade da infraestrutura escolar comprometem significativamente o processo de aprendizagem.
Segundo a UNESCO (2022), a desigualdade educacional no Brasil é uma das maiores da América Latina, e o acesso à educação de qualidade ainda é um desafio para milhões de crianças. O relatório destaca que a alfabetização precoce está diretamente relacionada ao desenvolvimento social e econômico do país, e sua ausência pode impactar negativamente a vida adulta dos estudantes.
2. Formação e Valorização dos Professores.
O papel do professor na alfabetização é essencial, mas a formação inicial e continuada apresenta lacunas. Muitas vezes, para os docentes, é um desafio lidar com metodologias inovadoras e com a diversidade de aprendizagem dos alunos. Além disso, a desvalorização da carreira docente, com baixos salários e condições de trabalho desafiadoras, contribui para a evasão de profissionais qualificados da área da educação.
Segundo Magda Soares (2020), a alfabetização deve ser compreendida além do simples ensino da leitura e da escrita, sendo um processo que envolve múltiplas competências. Para os professores poderem atuar eficientemente, é necessário um investimento contínuo em sua formação e no desenvolvimento de práticas pedagógicas eficazes.
3. Metodologias de Ensino e Práticas Pedagógicas
A alfabetização exige métodos eficientes e adaptados às necessidades dos alunos. No entanto, ainda há uma grande ênfase em práticas tradicionais, muitas vezes descontextualizadas da realidade dos estudantes. A abordagem fônica, que enfatiza a relação entre letras e sons, e a abordagem construtivista, que incentiva a descoberta do conhecimento, são exemplos de metodologias que, se bem aplicadas, podem contribuir para um aprendizado mais significativo.
De acordo com Maria Mortatti (2006), a história dos métodos de alfabetização no Brasil mostra que não existe uma única abordagem ideal, mas sim a necessidade de adaptação ao contexto dos alunos. A autora destaca que a combinação de diferentes estratégias pode ser mais eficaz do que a adoção exclusiva de um único método.
4. Políticas Públicas e Continuidade dos Programas
O Brasil já implementou diversas políticas voltadas à alfabetização, como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada. No entanto, a descontinuidade de programas educacionais a cada mudança de governo prejudica a consolidação de estratégias eficazes. A ausência de um planejamento a longo prazo e a falta de investimento adequado dificultam a superação dos desafios no processo de alfabetização.
O Compromisso Nacional Criança Alfabetizada (BRASIL, 2023) reforça a importância da colaboração entre os entes federativos e do acompanhamento sistemático do aprendizado dos alunos. No entanto, especialistas alertam que a efetividade dessas políticas depende da continuidade e do fortalecimento das ações ao longo do tempo.
5. Impactos da pandemia da Covid-19.
A pandemia agravou ainda mais os desafios na alfabetização. O ensino remoto, embora necessário no período, não foi acessível a todos os alunos, resultando em um aumento significativo na defasagem de aprendizagem. Muitas crianças passaram para os anos seguintes sem a base necessária para leitura e escrita, comprometendo todo o processo educacional.
Segundo Freire (1989), a alfabetização deve estar ligada à vivência do aluno e à sua realidade social. A falta de interação presencial e o distanciamento dos professores durante a pandemia tornaram ainda mais difícil esse processo, prejudicando a construção do conhecimento significativamente.
Possíveis Soluções
Diante desses desafios, algumas estratégias podem contribuir para a melhoria da alfabetização no Brasil:
- Investimento na Formação Docente: Capacitação contínua dos professores, com cursos atualizados e metodologias eficazes, garantindo que estejam preparados para lidar com diferentes realidades.
- Adoção de Metodologias Diversificadas: Utilização de práticas pedagógicas inovadoras que considerem o contexto dos alunos, como jogos, literatura infantil e tecnologia educacional.
- Fortalecimento das Políticas Públicas: Garantia da continuidade e ampliação de programas de alfabetização, com financiamento adequado e acompanhamento dos resultados.
- Redução das Desigualdades: Expansão do acesso a materiais didáticos de qualidade, melhoria da infraestrutura escolar e oferta de alimentação adequada para garantir que os alunos tenham condições de aprender.
Conclusão
A alfabetização no Brasil ainda enfrenta muitos desafios, mas superá-los é essencial para o desenvolvimento educacional e social do país. Investir na formação docente, adotar metodologias eficazes e fortalecer políticas públicas são passos fundamentais para garantir que todas as crianças tenham acesso a uma alfabetização de qualidade. O compromisso com essa causa deve ser coletivo, envolvendo educadores, famílias e gestores públicos, para que possamos construir um futuro com mais equidade e oportunidades para todos.
Referências
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ministério da Educação, 2018. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br>. Acesso em: 18 mar. 2025.
BRASIL. Compromisso Nacional Criança Alfabetizada. Ministério da Educação, 2023. Disponível em: <https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/compromisso-nacional-crianca-alfabetizada>. Acesso em: 18 mar. 2025.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1989.
MORTATTI, Maria do Rosário Longo. História dos métodos de alfabetização no Brasil. São Paulo: UNESP, 2006.
SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2020.
UNESCO. Relatório de Monitoramento Global da Educação 2022. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2022. Disponível em: <https://unesdoc.unesco.org>. Acesso em: 18 mar. 2025.