Por Marlei Brum de Souza Zago
1 INTRODUÇÃO
O processo de internação hospitalar é parte do tratamento de inúmeras enfermidades que acometem a população de um modo em geral, no caso das crianças tal processo pode ser traumático tanto pela fragilidade das mesmas quanto pela quantidade de dias que estas permanecem dentro do hospital.
Para isso, muitas casas de saúde vêm buscado criar um espaço que traz um pouco de ludicidade para os pequenos durante o período de recuperação. Com o auxílio de uma monitora ou pedagoga as crianças podem ocupar parte do seu tempo brincando, desenhando ouvindo histórias e interagindo com as demais crianças que dividem tal espaço.
A brinquedoteca hospitalar busca através de seus profissionais auxiliar no processo educacional dos enfermos buscando além da reabilitação da criança contribuir no seu desenvolvimento nos aspectos cognitivos e afetivos e diminuir o tempo de reabilitação.
A metodologia utilizada na realização da pesquisa foi através da realização de pesquisa junto aos pais e profissionais se a recuperação dos pacientes é otimizada quando comparada aos pacientes que não utilizam a brinquedoteca, dessa forma, o objetivo do presente trabalho é verificar a contribuição da brinquedoteca hospitalar no processo de aprendizagem da criança.
2 DESENVOLVIMENTO
Como surgiu a Brinquedoteca Hospitalar
A Constituição Federal Brasileira garante o acesso à educação básica como princípio fundamental da aprendizagem (BRASIL, 2018), porém durante o processo de internação essa etapa da educação fica em parte comprometida uma vez que a criança fica de certo modo afastada do ambiente escolar e para piorar a situação a mesma fica confinada em um ambiente de certa forma traumática, uma vez que sua recuperação ocorre em meio a remédios, vacinas e outras formas de restabelecimento da saúde.
As internações hospitalares são experiências nada agradáveis principalmente para crianças, o choro de outros pequenos, as agulhas medicamentos, todas essas situações acontecendo ao mesmo tempo criam nas mesmas um sentimento de medo que tende a deixar a criança nervosa e querendo sair daquele ambiente o mais rápido possível (SENAC, 2017).
Nesse contexto, surgiu amparada pela Lei 11.104 a obrigatoriedade da criação de uma brinquedoteca hospitalar em casas de saúde onde sejam realizados tratamentos de saúde em crianças e adolescentes (BRASIL, 2005), essa sala deve ser em espaço amplo e composta por brinquedos e jogos educativos, além de livros para leitura e atividades de recreação.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) também garante as crianças e adolescentes, em forma de lei, o direito de brincar, independentemente de sua idade, raça ou condição socioeconômica, e cabe a sociedade como um todo garantir e preservar esse direito e que o mesmo seja respeitado, pois tal direito é essencial à saúde emocional, intelectual e física do ser humano.
A Ludicidade e a criança
O ato de brincar promove na criança o aumento da atenção e da concentração e segundo De Angelo e Vieira (2010) tais sensações são benéficas, uma vez que, permitem a criança um melhor enfrentamento frente a realidade, diminuindo o impacto com relação aos adultos que o cercam e possibilitando em suas fantasias jogar a culpa do que está acontecendo em brinquedos ou em aventuras da sua imaginação.
Segundo Vygotsky et. al, (1988), “as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade”. O ato de brincar incide decisivamente sobre a formação da criança, uma vez que ludicidade interage nos aspectos cognitivos e permitem a esse convívio e a socialização com as demais crianças à sua volta.
A interação dos profissionais de saúde com as crianças
Para Oliveira (2009), é importante que toda a equipe de colaboradores que tenham contato com a criança no hospital, e também os pais ou acompanhantes entendam a importância do brincar para a criança, pois é através desse que os pequenos exercitam o desenvolvimento neuropsicomotor utilizando as brincadeiras como recursos metodológicos.
Para De Paula e Foltran (2007), a brinquedoteca hospitalar é um espaço que além de lúdico também tem caráter terapêutico e político, pois promove o incentivo a brincadeiras, a interação entre as crianças e adolescentes permitindo a socialização e também a maior aproximação entre pais e filhos dentro do ambiente da brinquedoteca, uma vez que ali, juntos participam das atividades e brincadeiras que são proporcionadas pelas pedagogas.
Segundo Abreu e Fagundes (2010), as primeiras pesquisas realizadas sobre o brincar são datadas da década de 20, entre as décadas de 40 e 50 tais pesquisas foram reforçadas pelos trabalhos de Piaget, mas somente a partir década de 70 as pesquisas sobre brinquedotecas foram levadas em evidência, sendo trabalhados com ênfase no início desse século, reiterando que o brincar é indispensável para as crianças e também aos adultos.
A pedagogia hospitalar
Silva (2014), define pedagogia hospitalar como a atividade realizada em espaço não -formal, no caso, casas de saúde onde realizam-se atividades de ensino e recreação junto as crianças e adolescentes que estão em tratamento clínico e em processo de reabilitação, permitindo a continuidade nos estudos e impedindo a exclusão social.
Os aspectos físicos, as relações afetivas e emocionais são tarefas de um trabalho humanista e estão diretamente ligadas a pedagogia hospitalar. De Oliveira, Da Silva e Fantacini (2016), defendem um processo de documentação na escola, no qual a criança possa durante a sua internação ter acesso e incentivo de um pedagogo, para que permaneça acompanhando o conteúdo que está sendo ministrado no ambiente escolar.
O papel da Literatura no desenvolvimento da criança
A Literatura Infantil tem um papel muito importante no desenvolvimento da criança, pois ela ajuda a desenvolver a imaginação, o cognitivo e principalmente a compreensão da realidade em que a criança vive, pois a partir daí ela começa a compreender as situações emque está inserida. Na maioria das vezes é na escola que ainda alguns alunos possuem acesso ao livro, sabemos que estamos inseridos em uma realidade desigual, muitas vezes a escola é a mediadora que possibilita que todos tenham acesso às mesmas oportunidades.
Ao trabalho da escola quanto ao ensino da literatura, Costa(2007) diz:
A formação do leitor é atribuição primordial e indiscutível da escola, à qual cabe muito maior responsabilidade do que cabe às outras instituições sociais, como igreja e a família. A escola deveria ter professores qualificados, acesso a biblioteca, planejamento necessário ao trabalho eficaz e eficiente com a aprendizagem da leitura, a formação do leitor e o desenvolvimento de forma gradativa de habilidades e competências para a leitura e sua extensão, a escrita. (Marta Morais Costa 2007 p.95)
Por isso, muitas vezes os alunos chegam à escola ainda sem muito conhecimento sobre esse assunto; em suas casas eles não possuem um amplo acesso a livros e leitura. Isso pode acarretar em não interesse na literatura. Para isso os professores são mediadores que buscam novas formas de como fazer com que a criança da educação infantil aceite aquela atividade proposta com os livros, à leitura e como ainda conseguir fazer com que esta seja feita de forma prazerosa, e não pela obrigação de manusear um livro. É neste sentido que a escola deve buscar soluções e obras que sejam coerentes a este público infantil.
A prática da Leitura na Educação infantil, como formar bons leitores
O ato de realizar a leitura na educação infantil é algo muito valioso. Ainda que as crianças não realizem a leitura como os adultos a motivação para que eles leiam é muito importante. O professor tem papel mediador em buscar leituras apropriadas para a faixa etária e que chamem a atenção e entusiasmem as crianças em buscar aprender. Na educação infantil não é apenas o “cuidar”; e sim preparar eles para os ensinamentos que virão pela frente no aprendizado de cada um deles. Essas atividades de leitura e compreensão da atividade realizada precisam ser de acordo com a compreensão dos alunos, facilitando assim a aprendizagem.
Em uma reportagem ao site da revista Dentro da História, a pedagoga Cláudia Onofre responsável pelos projetos de incentivo à leitura diz:
“Quando o bebê nasce, o hábito da leitura deve se manter de forma prazerosa. Através da leitura a criança irá desenvolver a curiosidade, descobrir sons, cores, sabores e no decorrer da primeira infância (0 a 06 anos) o hábito da leitura contribuirá de forma significativa para o seu desenvolvimento. Por isso a importância de introduzir livros no cotidiano já nos primeiros anos de vida.” (Cláudia Onofre, 08 de fevereiro de 2019, p.2)
Para algumas crianças o ato de ler é feito por prazer, pois desde cedo eles são incentivados a realizarem a leitura e se interessarem por livros; mas para outros tantos a leitura pode ser uma coisa não tão prazerosa assim. Nem todos têm o mesmo acesso e incentivo a livros e a leitura, muitas vezes essa precariedade torna-se um obstáculo na aprendizagem da criança.
Onofre (2019) ainda salienta que a responsabilidade de fazer o incentivo para as crianças não é somente um papel que cabe a escola, a leitura deve ser incentivada pela família em casa para proporcionar o gosto pela leitura.
3 CONCLUSÃO
Chegamos ao final de mais uma importante etapa no processo de aprendizagem, um trabalho que possibilitou transcender o espaço do ambiente escolar, chegar a uma parte do processo educacional que pouco se fala, um ambiente que geralmente é lembrado em momentos de angustia, mas que também é um importante espaço para a complementação no processo de ensino, uma vez que algumas crianças ficam hospitalizadas por longos períodos e acabam tendo na brinquedoteca hospitalar um ambiente para integração para com as outras crianças, além de participar de oficinas de leitura e brincadeiras.
Foi possível através desse trabalho, compreender como esse espaço é importante, perceber que o trabalho do professor não se resume apenas ao ambiente escolar e que a dedicação dos profissionais que atuam nessa atividade também é de fundamental importância para a recuperação e evolução no processo educacional das crianças.
4 REFERÊNCIAS
ABREU, Simone Aparecida Kraus de; FAGUNDES, Elizabeth Macedo. Brinquedoteca hospitalar: sua influência na recuperação da criança hospitalizada. Voos Revista Polidisciplinar Eletrônica da Faculdade Guairacá, v. 2, n. 1, 2010. Disponível em <http://www.revistavoos.com.br/seer/index.php/voos/article/view/73/03_Vol2_VOOS2010_CH>. Acesso em 08 Jun. 2022
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