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Artigo: Inclusão na Educação Infantil – um estudo sobre transtorno do espectro autista em sala de aula

Por Raquel Quevedo do Amarante, com Licenciatura em Pedagogia, Pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva, Atendimento Educacional Especializado, Psicopedagogia Institucional.

INTRODUÇÃO

A Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica e tem uma importância fundamental para a socialização da criança e o desenvolvimento da aprendizagem ao longo da vida. Por este motivo, se faz necessário que a escola e os educadores que irão receber as crianças com a síndrome do Espectro Autista, estejam preparados, capacitados e em permanente atualização para acolher as mesmas, contribuindo no desenvolvimento integral dos educandos, proporcionando a eles uma aprendizagem significativa, atrativa e prazerosa. Além disso, a escola não somente precisa assegurar o direito a escola, mas também manter os alunos nela.

A educação infantil é recente no Brasil, sendo que em meados do século XIX, que iniciaram os primeiros projetos que incluíam as crianças menores de 7 anos nas escolas. Isso é reflexo da inserção da mulher no mercado do trabalho, necessitando assim de colocação das crianças em creches. Com esse avanço, vieram muitos desafios para a escola e para os educadores, inclusive depois surgindo a necessidade de incluir as crianças com alguma necessidade especial, que antes eram excluídas e até mesmo rejeitadas pela sociedade.

No art. 22 a LDB considera a Educação Infantil parte integrante da Educação Básica, com a finalidade de desenvolver o educando, assim como garantir a formação comum indispensável para o exercício da cidadania, podendo progredir no mercado de trabalho. Esse processo inicial de inserção da criança na escola é muito importante, necessitando de uma atenção especial por parte de todos os envolvidos.

Estudos demonstram que, para despertar no sujeito o interesse pela aprendizagem assim como proporcionar a inclusão é preciso propor atividades prazerosas que despertem não só o interesse por aprender mas também a socialização. Tem-se como hipótese que, o professor de uma turma de 4 e 5 anos da educação infantil, possa através de atividades lúdicas, desenvolver em sala de aula o processo de inclusão de aluno com diagnóstico de TEA com os demais alunos da turma, reafirmando a necessidade que todos compreendam e aceitem a diversidade humana, podendo contribuir na construção de uma sociedade mais justa e igualitária e garantir o aprendizado de todos.

A relevância dessa pesquisa bibliográfica consiste numa busca de solucionar as dificuldades enfrentadas tanto pelos professores de educação infantil em incluir o aluno com diagnóstico de TEA com os demais alunos da turma, tanto do próprio aluno se sentir incluído assim como todos se sintam aceitos e compreendam as diferenças, mantendo-os no âmbito escolar. Além disso, a busca por um método que atenda às necessidades pedagógicas de cada aluno em sua especificidade, independentemente de suas limitações, e que possibilite uma aprendizagem significativa e inclusiva é o que rege essa pesquisa.

Esta pesquisa visa estudar como o lúdico pode promover uma educação mais igualitária e eficiente, levando para a sala de aula da realidade vivida pelos alunos, em especial, com relação à inclusão de aluno com diagnóstico de TEA, foi a busca desse resultado a motivação para a realização deste.

Para chegar concretizar este estudo, foi realizado um levantamento bibliográfico e qualitativo, onde foram utilizadas diversas referências, sites e artigos científicos on-line de autores que discutem o assunto abordado, entre os autores estudados estão os teóricos: Gómez; Teran (2014), Friedmann (2012), entre outros. Também foram utilizadas algumas Leis que abordam o tema da pesquisa, como por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e o Referencial Curricular na Educação Infantil, as quais deram um suporte para melhor compreender e fundamentar a pesquisa.

O principal objetivo deste é apresentar as vantagens de se fazer uso de atividades lúdicas fundamentadas na inclusão de alunos com diagnóstico de TEA na Educação Infantil. Propor soluções para os problemas que serão levantados com essa pesquisa.

TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO

Os seres humanos naturalmente vivem e pertencem a diferentes grupos, criando relações com pessoas diferentes, de culturas diferentes, raças e costumes, assim como de opiniões diferentes. Essa socialização permite serem ensinadas regras da sociedade para que possam aprender maneiras de comunicar-se, de aprender e de desenvolver-se nela. Segundo Khoury (2014), essa habilidade é essencial para a interação, assim como comportar-se em diferentes contextos como a sala de aula e o ambiente de trabalho, entre outros, sendo características das crianças com autismo a dificuldade em realizar essa função. Ou seja, a socialização é fundamental para o desenvolvimento humano, tendo em vista a troca de informações e a capacidade que ela proporciona através da interação com as diferentes pessoas de aprender constantemente. No caso das crianças autistas esta é uma das maiores dificuldades encontradas no decorrer da vida.

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) apresenta dificuldades no desenvolvimento neurológico que estão presentes na criança desde o nascimento ou começo da infância, podendo apresentar diferentes características em diferentes áreas do desenvolvimento. Conforme Camargo e Bosa (2009, p. 65), o autismo é caracterizado por um desenvolvimento diferente relacionado a interação social e comunicação, assim como pelo repertório marcadamente restrito de atividades e interesses. Tais características, se não identificadas pela família precocemente, precisam ser feitas quanto antes pela escola.

O TEA, não é degenerativo, isso significa que seja comum que a aprendizagem continuem ao longo da vida, sendo indispensável que as crianças frequentem a escola permitindo que ela possa se desenvolver e conviver com outras pessoas. Por isso a importância do papel da escola e do educador para esse desenvolvimento. Pletsch_ e Lima (2014) afirmam que,

Incluir a criança com autismo vai além de colocá-la em uma escola comum, em uma sala regular; é preciso proporcionar a essa criança aprendizagens significativas, investindo em suas potencialidades, constituindo, assim, o sujeito como um ser que aprende, pensa, sente, participa de um grupo social e se desenvolve com ele e a partir dele, com toda sua singularidade (PLETSH & LIMA, 2014, pág.6).

Sendo assim, só colocar as crianças com TEA na escola regular não é suficiente. É necessário possibilitar aprendizagens e tornar a escola atrativa para todas as crianças, assim como permitir a socialização das mesmas.

Segundo Friedmann (2012) a deveria ser a principal preocupação da escola deveria ser a de permitir a todas as crianças um desenvolvimento integral e dinâmico com conteúdos que correspondam aos conhecimentos gerais das crianças, assim como dos seus interesses, desafiando e motivando-as para a aprendizagem. Isso inclui todas as crianças, sejam elas portadoras de necessidades especiais ou não, mantendo o interesse e despertando cada vez mais a vontade de aprender, desenvolvendo suas potencialidades e permitindo que seu acesso a escola transforme sua vida também na família e na sociedade.

Inclusão Escolar

A escola que antigamente excluía e rejeitava crianças com alguma deficiência ou diferença, atualmente é desafiada a promover um ensino inclusivo, criando metas para enfrentar e superar as barreiras encontradas. Segundo Barbosa (2013, p. 6), “a inclusão da criança com autismo em sala de aula deve existir de forma consciente, o conjunto escolar tem que possuir um suporte pedagógico sólido para incluir o aluno no contexto educacional de forma que todos os envolvidos assimilem a situação e conhecimento das metodologias a serem trabalhadas visando à superação de limitações da criança com autismo”.

Dessa forma, é importante que para que a escola possa incluir, tenha estrutura para fazê-lo, com equipe especializada e condições de além de receber, manter esse aluno na escola.

A inclusão nos espaços educativos se torna um meio de oportunizar uma educação que trabalha a diversidade, desenvolvendo um pensamento de aceitação das diferenças, necessitando de conhecimento por parte de todos os envolvidos de maneiras para acolher essa criança na escola. O desafio de uma escola inclusiva é   desenvolver uma pedagogia que possa educar todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência e desvantagens severas (SALAMANCA, 1994, p­­ág.6).

Barbosa (2013, p. 7), afirma que “é necessário ressaltar que por mais importante que seja inserir a criança com deficiência na sala de aula regular, é preciso criar meios para que ela permaneça na escola, sem que tenha prejuízos em seu desenvolvimento.” Ou seja, apenas colocar essa criança na escola, não é suficiente tendo em vista que ela necessita de suporte e condições para que ela possa se desenvolver nessa escola e continuar a frequenta-la considerando-a como um ambiente atraente e que permita seu desenvolvimento pleno.

Atividades lúdicas e a importância na inclusão escolar

Segundo Friedmann (2012) o brincar já existia na vida humana muito antes das primeiras pesquisas sobre o assunto: desde a Antiguidade e ao longo do tempo histórico, em todo o mundo onde há evidencias de que o homem sempre brincou. Na verdade o brincar mudou de figura no decorrer dos tempos, pela indústria dos brinquedos, pelo aparecimento das tecnologias e pela influência da televisão entre outros.

Pode-se dizer que as crianças, por terem contato com as brincadeiras desde que nascem, como as cantigas de roda, jogos, atividades que fazem parte desde seu nascimento, são atraídas na escola através do lúdico, de forma natural, como um elemento de aprendizagem e uma das principais atividades da Educação Infantil, motivando o aluno a interagir com todos e a aprender. Segundo Silva (2020, p. 2), “as práticas lúdicas usadas no método de aprendizagem educacional possibilitam a qualquer aluno, independentemente de suas limitações, uma aprendizagem significativa”.  Dessa forma, fazem com que todos se sintam no mesmo grupo, trocando experiências, brincando e aprendendo sem distinção, pois no desenvolvimento das brincadeiras e jogos acabam interagindo de forma natural, despercebida, aprendendo e tendo prazer em fazê-lo.

Várias atividades lúdicas podem ser inseridas nas aulas. Podem ser elas jogos, brincadeiras, cantigas de roda, sendo que seu uso relacionado à espontaneidade, à liberdade e à autonomia das crianças, à expressão de emoção e ao prazer.  Segundo Silva (2020, p. 2), “nesse sentido, o brincar se constitui em recurso pedagógico também favorecedor da inclusão”. É importante que durante o jogo o educador seja o mediador, impondo limites claros e objetivos, podendo trabalhar suas fragilidades, assim como aprender a lidar com as próprias dificuldades e limitações na ação pedagógica.

As atividades lúdicas podem ser utilizadas como ferramentas de inclusão das crianças com TEA de 4 e 5 anos da educação infantil, porém é necessário que o educador observe que tipos de estímulos essa criança responde melhor, ou seja, é importante conhecer as suas dificuldades e facilidades, investido nos aspectos que chamam a sua atenção.  Segundo Silva (2020, p.2), “a inclusão da criança em uma atividade lúdica favorece o contato dela consigo mesma e com sua liberdade emociona” como explicitado pelo autor.

O brincar a leva a se expor e torna qualquer outra atividade posterior mais fácil.” Desta forma, entende-se que as atividades lúdicas, contribuem e oportunizam as crianças momentos de expressão, criação e de troca de informação, além de trabalhar a cooperação promovendo a inclusão de todos na educação.

Quando se trata de brinquedos e brincadeiras é importante que eles sejam utilizados de acordo com a idade da criança. No caso das crianças de 4 a 5 anos, é importante utilizar brincadeiras e brinquedos que desenvolvam a coordenação motora ampla e fina, importantíssimos nessa fase do desenvolvimento infantil.

As brincadeiras de faz-de-conta permitem o desenvolvimento da expressão assim como a elaboração em forma simbólica de desejos e conflitos; quanto mais rica for à fantasia e a imaginação da criança maiores serão suas chances de ajustamento do mundo ao seu redor. Como por exemplo: bonecas, fantoches, carrinho, mobília infantil e outros. (kishimoto, 1997.p.39 e 40).

Ferramentas que auxiliam na inclusão escolar

O PPP (Projeto Político Pedagógico), tem a função de nortear a escola e torná-la democrática através da participação de todos os envolvidos da comunidade escolar, sendo uma importante ferramenta de inclusão. Segundo Veiga (2003, pág. 10), o projeto político pedagógico necessita uma grande reflexão sobre a finalidade real da escola, explicito também o papel social dela e a definição das maneiras como será o processo educativo. Ele precisa ser permanentemente construído, de maneira que essa flexibilidade permita a construção de uma educação de uma educação de qualidade e adequada a realidade de seus alunos.

No Brasil, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), garante aos alunos com necessidades especiais em seu Capítulo III, art. 4º, inciso III, afirmando que é dever do Estado garantir o “atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1996, p.8). Dessa forma, as escolas precisam desenvolver metodologias que permitam que as crianças como as que possuem TEA, possam ter direito a seu desenvolvimento social e intelectual, na classe regular de ensino, como todas as crianças.

É necessário afirmar que a formação do educador é indispensável nos casos de inclusão de alunos com TEA, pois conhecer as características de cada tipo de necessidade é fundamental para o bom desenvolvimento do processo de inclusão, No art. 59, inciso III,  a LDB diz que os sistemas de ensino devem assegurar aos educandos com necessidades especiais “professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns” (Brasil, 1996, p. 44). Isso remete ao compromisso da escola com a questão inclusiva, necessitando capacitar e desenvolver seu corpo docente para a realidade do tipo de necessidade especial que precisa atender, dando suporte e condições para que esse aluno tenha condições para a aprendizagem.

Um fator importante para a organização da sala de aula, é o planejamento escolar, que permite que o educador tenha uma base para as ações que irá desempenhar em sala de aula, assim como os métodos de avaliação que irá utilizar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebeu-se através do presente trabalho que a criança que possui a Síndrome do Espectro Autista necessita de uma atenção especial e possui algumas dificuldades na no que diz respeito a inclusão dele na escola regular. Devido a esse motivo, é de extrema importância que o professor e monitor que forem receber essa criança, estejam capacitados e tenham no mínimo o conhecimento básico sobre a síndrome, para assim conseguirem ajudá-la, de forma significativa, colaborando para o seu desenvolvimento integral.

Pode-se concluir ainda que é necessário que o professor entenda seu papel de mediador e desenvolva para esse aluno as mesmas atividades que for aplicar nos demais alunos e se for preciso, essa atividade deverá ser adaptada de acordo com as necessidades do aluno autista.

Além disso, pode-se dizer que é importante que as atividades lúdicas sejam inseridas por serem ferramentas importantes de aprendizagem e por fazerem com que as crianças se sintam familiarizadas com as demais, sentindo-se iguais e sem sentimento de discriminação.

Dessa maneira, é importante ressaltar a importância desse estudo, como contribuinte de uma educação mais justa e igualitária a todas as crianças, inclusive as que possuem TEA.

REFERÊNCIAS

BAGAROLLO, M. F.; RIBEIRO, V. V.; PANHOCA, I. O brincar de uma criança autista sob a ótica da perspectiva histórico-cultural. Revista Brasileira Educação Especial, Marília, 2013. Disponível em https://www.scielo.br/j/rbee/a/dMKstH3Rt4DBB5Q5hsnwDhK/abstract/?lang=pt. Acessado em: 30 mai. 2021

BARBOSA, Amanda Magalhães; ZACARIAS, Jaqueline da Cruz; MEDEIROS, Késia Natália; NOGUEIRA, Ruth Kesia Silva. O papel do professor frente à inclusão de crianças com autismo. In: Congresso Nacional de Educação, 11., 2013, Curitiba, Anais. Curitiba: PUCPR, 2013, p. 19777 – 19792. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/CD2013/pdf/7969_6165.pdf. Acesso em: 08  jun. 2021.

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BRASIL, Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC,1996.

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