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Artigo – Educação Especial e a Inclusão nas Escolas Regulares

* Patrícia Pastorio Scherer

1. INTRODUÇÃO

Sabemos que inclusão escolar é uma questão bastante presente na realidade das instituições regular de ensino, é uma tarefa complexa e que tem implicações na formação e na vida social das pessoas. Assim sendo, este tema incita e provoca questionamentos e reflexão: O que é inclusão no contexto escolar? Qual é o objetivo da educação inclusiva? O que é necessário para que haja uma educação inclusiva? Como se dá o processo de inclusão na rede regular de ensino?

O movimento de inclusão surgiu para lidar com os altos índices de exclusão, de discriminação e desigualdades educacionais presentes na maioria dos sistemas de educação em todo o mundo. O primeiro momento no caminho da educação para a inclusão das pessoas com deficiência se deu com a criação de escolas especiais, com programas separados para estes grupos, o que os mantinha segregados. Até este momento, a Educação Especial tinha cunho meramente assistencialista, dada por ações isoladas, disponibilizada através de serviços prestados por instituições públicas, privadas e filantrópicas.

Princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade à todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola.

A ignorância, a negligência, a superstição e o medo são fatores que têm mantido isolados as pessoas com deficiência e atrasado sua efetiva inclusão social. Uma das características da educação inclusiva é justamente o acesso plural às escolas que são a base de uma sociedade democrática. Equidade na educação só é possível, garantindo-se o princípio da igualdade de oportunidades, como fundamento humano, independentemente de suas características individuais. Se as diferenças são visíveis, sensíveis e imediatamente perceptíveis, especialmente no caso das pessoas com necessidades especiais, o mesmo não ocorre com o princípio da igualdade. O princípio da igualdade não é visível a olho nu; seu contrário, a desigualdade, é fortemente perceptível no âmbito social.

Não é o suficiente incluir nas escolas, mas é essencial fornecer oportunidades necessárias com condições para que todos possam se beneficiar das ações educativas. Muitas questões e indagações surgem constantemente, diante do distanciamento entre as propostas das leis e a dura realidade de exclusão, não só educacional, mas social, impostas as pessoas com deficiência. Nesse tom, os eixos fundamentais para alicerçar o processo da inclusão, são ações de sensibilização da sociedade para a convivência na diversidade humana.

O objetivo deste artigo é lançar um olhar reflexivo, sem esgotar o assunto, acerca do direito a educação como princípio humano fundamental de todos os homens e o do papel da escola na luta pela inclusão da pessoa com deficiência, detendo nosso olhar sobre a responsabilidade de construção de uma escola inclusiva capaz de educar os desiguais para a igualdade.

2. DESENVOLVIMENTO

Muito se tem discutido sobre diversidade no ambiente escolar, espaço onde as crianças socializam e interagem constantemente com outras crianças e com os adultos que trabalham nela. Neste caso, dentro da diversidade em questão estão às crianças com deficiências intelectuais e suas necessidades, e sabemos que as pessoas com deficiências, por muito tempo foram mantidas privadas do convívio social.

Para Freire (2011), é indiscutível que essas crianças tenham por direito, uma educação escolar, e que tenham suas necessidades atendidas, mas infelizmente ainda há a discriminação do aluno com deficiência e da deficiência, porque a sociedade ainda preza pelo intelecto, pela beleza, a individualidade, e a independência, fazendo com que o indivíduo seja desprezado e desvalorizado.

Para Machado (2013), o aluno com deficiência intelectual no contexto do enquadramento escolar, não foge dessa realidade. No espaço educacional, o próprio corpo docente ressalta que a ideia da educação inclusiva para atender a criança autista, é exemplar, mas vale lembrar que as escolas brasileiras e públicas não conseguem proporcionar uma aprendizagem acadêmica de qualidade ao aluno que não possui deficiência, imagina ao que tem, pois, o investimento no sistema educacional é extremamente baixo.

Em linhas gerais a diversidade está muito ligada à cultura e ao desenvolvimento humano, visto que, as pessoas diferem entre si em gênero, etnia, cultura, entre outros aspectos.

[…] a relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento não pode ser encarada como uma questão imediata, linear e natural. Seus termos devem ser lidos criticamente, e suas relações, entendidas como decorrência de diferentes contextos e modelos histórica e politicamente construídos. (BARROS, 2008, p.16)

Sendo assim, na concepção do autor, é possível compreender que é necessário entender a diversidade e a relação que a mesma exerce sobre a sociedade no geral, sabendo interpretar o contexto a que esta diversidade está vinculada, conforme o grupo de indivíduos participantes de tal relação. Trataremos aqui em especial da diversidade no contexto escolar, assim podemos salientar que a escola é um local onde a diversidade exerce maior força sobre o grupo social ali exposto.

No entanto, a busca por igualdade e respeito à diversidade tem sido frequente em vários setores da sociedade, entre eles, e talvez o mais importante, encontra-se o ambiente escolar, que se apresenta como o lugar da mudança, dos vários tipos de fala, do universo em transformação e de um dever que nos espera diariamente.

De acordo com Fonseca (1995, p. 55), a educação de uma criança com deficiência começa após o nascimento. “Não se pode aguardar cinco a seis anos para se encaminhar e orientar uma criança. Não podemos perder tempo. É preciso ver, identificar e intervir”. Nesse contexto, a inclusão do aluno especial deve iniciar-se na Educação Infantil e ter continuidade nas séries iniciais do Ensino Fundamental e assim por diante. A inclusão do aluno com deficiência, seja ela em que etapa da educação for, deve ser apoiada, especialmente, no respeito às suas diferenças.

De acordo com o entendimento de defensores da inclusão, reunir no mesmo espaço crianças comuns e as com deficiência, seja mental ou outra deficiência, beneficia todo o sistema escolar. “Essa convivência em sala de aula traz melhorias não apenas às relações entre as crianças, mas à própria atividade do professor. (MANTOAN, 2005, p. 24).

Na concepção de Mantoan (2005, p. 24), “quando uma criança com deficiência entra em uma sala de aula, ela é apenas mais um motivo de estímulo para que essa classe aprimore seu trabalho com todas as crianças”.

As discriminações de gênero, étnico-racial, orientação sexual e portadores de necessidades especiais, são dilemas que, para serem resolvidos, precisam ser desnaturalizados e esse processo de desnaturalização passa, necessariamente, pela informação séria que instrumentaliza professores/as e outros setores das unidades de ensino no desenvolvimento de projetos voltados ao respeito da diversidade (característica fundamental da escola) e enfrentamento a todo tipo de preconceito que se apropria das falas e atitudes das pessoas no espaço escolar.

Como afirma Mary Garcia Castro, pesquisadora da UNESCO:

Há que se estimularem os professores [e professoras] para estarem alertas, para o exercício de uma educação por cidadanias e diversidade em cada contato, na sala de aula ou fora dela, em uma brigada vigilante antirracista, antissexista, [anti-homofóbica] e de respeito aos direitos das crianças e jovens, tanto em ser, como em vir a ser; não permitindo a reprodução de piadas que estigmatizam, tratamento pejorativo (…) (CASTRO, 2015, p. 17)”.

Ainda no contexto da diversidade na escola, sabe-se que se encontra muitos alunos com diversos tipos de deficiência e dificuldades motoras e/ou psicomotoras que levam professores e demais profissionais do setor educacional à saberem lidar com a diversidade na escola e suas esferas social e familiar.

Na concepção de Mantoan, muitas são as dificuldades enfrentadas pelo aluno com deficiência intelectual no contexto escolar:

As dificuldades na interação social da criança com deficiência intelectual, podem manifestar-se como isolamento ou comportamento social impróprio; pobre contato visual; dificuldade em participar de atividades em grupo; indiferença afetiva ou demonstrações inapropriadas de afeto; falta de empatia social ou emocional. (MANTOAN, 2013, p. 45).

Para Paulo Freire (2011), é função do professor considerar, como ponto de partida para sua ação educativa, os conhecimentos que os educandos possuem advindos das mais variadas experiências sociais, efetivas e cognitivas a que estão expostas, prezando pela diversidade e pelo respeito às diferenças encontradas entre os indivíduos em sala de aula. Detectar os conhecimentos prévios dos alunos não é uma tarefa fácil implica que o professor estabeleça estratégias didáticas para fazê-lo.

O autor continua a mesma linha de raciocínio, ao afirmar que quanto menores são as crianças, mais difícil é a explicação de tais conhecimentos, uma vez que elas não se comunicam verbalmente. A observação acurada das crianças é um instrumento essencial nesse processo. Os gestos, os movimentos corporais, sons produzidos, expressões faciais, as brincadeiras e toda forma de expressão, representação e comunicação devem ser consideradas como fonte de conhecimento para o professor sobre o que a criança já sabe. Com relação ás crianças maiores, podem também criar situações intencionais nas quais elas sejam capazes de explicitar seus conhecimentos por meio das diversas linguagens a que têm acesso (FREIRE, 2011).

A entrada do aluno com deficiência intelectual na escola regular, numa perspectiva inclusiva, proporciona um momento diferenciado para a educação, na medida em que possibilitam um processo de criação pedagógica, na busca de novos procedimentos de ensino, novas estratégias metodológicas capazes de atingirem o potencial de cada um dos alunos, respeitando suas diferenças e levando-os a inserção no mundo cultural e na vivência histórica enquanto homem presente e atuante em seu tempo.

É incorreto, portanto, atribuir a certos alunos identidades que os mantém nos grupos de excluídos, ou seja, nos grupos dos alunos especiais, com necessidades educacionais especiais, portadores de deficiências, com problemas de aprendizagem e outras tais. É incabível fixar no outro uma identidade normal, que não só justifica as exclusões dos demais, como igualmente determina alguns privilégios.

Para Silvia Ester Orrú (2017, p. 45), a educação Inclusiva “questiona a artificialidade das identidades normais e entende as diferenças como resultantes da multiplicidade”, e não da diversidade, como geralmente se proclama. Trata-se de uma educação que garante o direito à diferença e não diversidade, pois assegurar o direito à diversidade é continuar na mesma, ou seja, é seguir reafirmando o idêntico.

Nesse sentido, afirmam Fermino, Boruchovith e Diehl que:

A diferença vem do múltiplo e não do diverso. Tal como ocorre na aritmética, o múltiplo é sempre um processo, uma operação, uma ação. A multiplicidade é uma máquina de produzir diferenças – diferenças que são que são irredutíveis a identidade. A diversidade limita-se ao existente. A multiplicidade, prolifera, dissemina. A diversidade é um dado- da natureza ou da cultura. A multiplicidade é um movimento. A diversidade reafirma o idêntico. A Multiplicidade estimula a diferença que se recusa a se fundir com o idêntico. (FERMINO; BORUCHOVITH; DIEHL, 2011, p.100-101)

Com isso, os autores pretendem demonstrar que a inclusão escolar impõe uma escola em que todos os alunos estão inseridos sem quaisquer condições pelas quais possam se limitados em direito de participar ativamente do processo escolar, segundo suas capacidades, e sem que nenhuma delas possa ser motivo para uma diferenciação que os excluirá das suas turmas.  Deve ainda capacitar professores, funcionários, alunos, familiares e sociedade em torno dessa transformação.

O art. 205 da Constituição federal de 1988 dispõe que a educação, direito de todos e dever do Estado e da Família, será promovido e incentivada, com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Se a educação é um direito de todos, os indivíduos que apresentam necessidades especiais estão sem dúvida incluídos e, portanto, sua educação é plenamente assegurada. Além disso, o artigo 208, inciso III, do mesmo diploma legal, assegura o “[…] atendimento educacional especializado as pessoas com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988).

De acordo com Achcar (2016), a inclusão é um desafio que implica em mudanças. Segundo o Instituto nacional de estudos e Pesquisas (INEP) há 110 mil alunos com alguma deficiência estudando em escolas comuns. O censo 2002 mostra que a inclusão vem ganhando espaço, desde 1998, aumentou 135%, mas ainda é minoria.

A inclusão de pessoas com deficiências nas classes comuns representa um avanço histórico em relação ao movimento de integração, que pressupunha algum tipo de treinamento prévio para permitir sua participação no processo educativo comum.

A educação inclusiva é uma abordagem desenvolvida para pessoas com deficiência mental que procura responder às necessidades de aprendizagem de todas as crianças jovens e adultos com um foco especifico naqueles que são vulneráveis à marginalização e exclusão. (UNESCO)

Segundo a UNESCO a educação inclusiva nasceu em 1994 com uma alternativa voltada para a defesa e a promoção dos direitos dos grupos, vulneráveis historicamente, excluídos dos sistemas educacionais. A Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), assegura a criança com deficiência física, sensorial e mental estudar em classes comuns.

O Art. 58 desta Lei preconiza que a educação escolar deve situar-se na rede regular de ensino e determina a existência, quando necessária, de serviços e apoio especializado. Preveem também recursos como classes, escolas ou serviços especializados quando não for possível a integração nas classes comuns. Complementando, o art. 59 diz que o sistema de ensino regular deve assegurar através do trabalho pedagógico, atendimento às necessidades especificas da criança com deficiência (BRASIL, 1996).

O entendimento de Mantoan (2005) é de que a inclusão não admite qualquer tipo de discriminação e os mais excluídos sempre são os que têm deficiências graves. Ela diz isso quando se refere aos estudantes com deficiência mental severa, afirmando que eles podem estudar em uma classe regular. E acrescenta:

No Canadá vi um garoto que ia de maca para a escola e, apesar do raciocínio comprometido, era respeitado pelos colegas, integrado à turma e participativo. Há casos, no entanto, em que a criança não consegue interagir porque está em surto e precisa ser tratada, para o professor (…) é importante manter vínculos com os atendimentos clínico e especializado. (Mantoan, 2005, p. 25)

Pode ser que em uma escola regular essa criança com deficiência mental grave não atinja os objetivos a serem alcançados, que não atenda aos anseios estabelecidos pela sociedade, mas, ela teria a vantagem de estar convivendo com outras crianças e ser estimulada pelo ambiente, o que no mínimo se poderia alcançar com essa criança.

Mantoan (2005) discorre, também, sobre o processo de avaliação de alunos com deficiência mental afirmando que ele não deve ser diferenciado.Uma boa avaliação é aquela planejada para todos, em que o aluno aprende a analisar a sua produção de forma crítica e autônoma (…) A função da avaliação não é medir se a criança chegou a um determinado ponto, mas se ela cresceu. (MANTOAN, 2005, p. 26)

Garantir que todas as atividades da sala de aula tenham acomodações e a participação de todos ativamente é condição-chave para que a proposta inclusiva do deficiente mental se efetive. “Cabe ao professor valer-se da criatividade e do bom senso para não excluir ninguém da possibilidade de participar e contribuir, criando oportunidades variadas e condições diferenciadas, pois incluir é atender às diferenças” (SANTIAGO, 2003, p. 23)

Estabelecer rotinas na sala de aula e na escola em que todos recebam o apoio necessário para participar de forma igual e plena é outro instrumento eficaz para uma prática inclusiva. Mas, quanto a isso, continua Santiago (2003, p. 22): “o professor precisa estar vigilante para questionar como anda sua rotina em sala de aula, promovendo um ambiente aberto ao diálogo, onde alunos e pais possam opinar, sugerir e ajudar”.

Dificuldades requerem um olhar atento do professor, mas não podem impedir o desenvolvimento de seus alunos. Assim, partindo dessa reflexão, os educadores precisam ser sensíveis para incluir a diferença de cada sujeito, promover situações de aprendizagem e, principalmente, estar capacitado como professor para trabalhar com a diferença, com a diversidade em sala de aula.

Ainda, continuando com o entendimento de Santiago (2003, p. 23):

Às instituições de ensino, de modo geral, cabe o desenvolvimento de redes de apoio que possibilitem a formação de encontros periódicos com os professores e demais funcionários para debater, estudar, socializar experiências, pesquisar, buscar respostas, resolver problemas, trocar ideias, discutir métodos, técnicas e atividades, apoiarem-se e crescerem uns com os outros.

O professor tem um papel determinante na inclusão e na superação das ideias pedagógicas ultrapassadas sobre “o que é ensinar” e “o que é aprender”. Santiago (2003) alerta que, no primeiro aspecto, o professor deve ser um reivindicador que denuncia e forma consciências. No segundo aspecto, deve agir reconhecendo e respondendo às diversas dificuldades de seus alunos, acomodando os diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade para todos, mediante currículos apropriados, estratégias de ensino, recursos e parcerias com suas comunidades.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (2005), é competência do professor e tarefa de individualização das situações de aprendizagem oferecidas às crianças, considerando as suas capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas. Não deve estigmatizar as crianças por serem diferentes, devem levá-las em consideração, respeitando-as e valorizando-as como fator de enriquecimento pessoal e cultural.

Mesmo tratando-se de uma tarefa difícil é responsabilidade da sociedade, de uma forma geral, transformar as pessoas, diminuir as práticas de exclusão de alunos com deficiência intelectual, superar o preconceito, construir e preservar valores que envolvam o respeito entre as pessoas, estabelecer as possíveis relações em meio as diferenças e todo esse processo também passa pela escola, pois como instituição que faz parte da sociedade, ela vive as práticas de discriminação e de desigualdade que promovem a exclusão das pessoas.

Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias são finalidades que envolvem lidar com valores de reconhecimento e respeito mútuo, o que é tarefa para a sociedade como um todo.

A escola tem um papel crucial a desempenhar nesse processo. Em primeiro lugar, porque é o espaço em que pode se dar a convivência entre crianças de origens e nível socioeconômico diferentes, com costumes e dogmas religiosos diferentes daqueles que cada uma conhece, com visões de mundo diversas daquela que compartilha em família. Em segundo, porque é um dos lugares onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio democrático com a diferença. Em terceiro lugar, porque a escola apresenta à criança conhecimentos sistematizados sobre o País e o mundo, e aí a realidade plural de um país como o Brasil fornece subsídios para debates e discussões em torno de questões sociais. A criança na escola convive com a diversidade e poderá aprender com ela. (PCN, 2001, p.21)

Sendo assim, considerando as diferenças no contexto escolar, os Parâmetros Curriculares Nacionais são orientados de acordo com os princípios constitucionais de dignidade e igualdade de direitos, participação e responsabilidade pela vida social, a fim de a escola e o espaço educativo, seja um ambiente acolhedor para todos os alunos e todas as suas condições e necessidades especiais.

A escola como espaço inclusivo enfrenta inúmeros desafios, conflitos e problemas que devem ser discutidos e resolvidos por toda comunidade escolar. Essas situações desafiadoras geram novos conhecimentos, novas formas de interação, de relacionamentos, modificação nos agrupamentos, na organização e adequação do espaço físico e no tempo didático, o que beneficia a todas as crianças (WERNECK, 2000).

Desta forma, Parolim (2006) nos remete a reflexão de que trabalhar com inclusão não deve ser considerado algo isolado na escola, mas sim um trabalho coletivo que tenha a participação de toda a comunidade, familiares, do grupo escolar, envolvendo professores, gestores e profissionais especializados para que possam estar dando todo o suporte necessário no que se refere ao atendimento destas crianças.

Considerando também que profissionais como psicólogos, neurologistas ou mesmo um psicopedagogo podem dar uma grande contribuição e até intervir no aperfeiçoamento referente ao trabalho do professor diretamente com o aluno, pois em conjunto poderão ser estudadas as formas possíveis para chegar a uma conclusão de qual a melhor solução resolver problemas do dia-a-dia. Esta é mais uma forma de auxiliar o professor a desenvolver seu trabalho com alunos com necessidades especiais, podendo assim descobrir inúmeras formas de despertar o interesse e conhecimento do aluno.

Deve-se incansavelmente lembrar que um dos principais atores no cenário da inclusão é o professor, por isso repensar sua prática, se atualizar, estar em constante formação para que possa compartilhar e testemunhar suas experiências e a sua vivência neste espaço é importante para ele mesmo assim como para os demais, pois tudo isto contribui para a construção coletiva de conhecimento inclusivo (SILVA, 2009).

Neste amplo contexto de diversidade que se reflete não só na escola, mas também na comunidade e sociedade em geral, como uma realidade vivenciada por todos, para que se tenha êxito na proposta deste processo de inclusão, tanto quanto rever teorias e práticas pedagógicas é fundamental a disposição em rever a todo o momento atitudes e compromisso social frente ao outro, qualquer que seja este outro. Deixando de lado práticas excludentes e discriminatórias, repensando as fragilidades a que pessoas com necessidades especiais são expostas e enfrentam diariamente, pois “A inclusão é para todos porque somos diferentes” (WERNECK, 2000, p.42).

Conforme Diez (2010, p. 19) [..] uma escola que desenvolve práticas inclusivas encontra na diversidade uma oportunidade para aprender, para questionar o que se faz e propor mudanças no centro e nas salas de aulas. Um dos norteadores que deve prevalecer na prática do professor é crê que a diferença proporciona uma inovação, uma criatividade no dia a dia da sala de aula.

Ao buscar novos métodos e técnicas o educador pode se deparar com atividades que irão proporcionar ao aluno uma nova forma de aprender. Para trabalhar com atividades criativas o profissional da educação compreenderá que para cada tipo de necessidade existe uma forma, uma maneira, um método de se ensinar e, principalmente cada aluno responderá de uma forma diferente, porém querendo chegar e podendo chegar ao mesmo denominador comum.

E esse é um dos desafios fundamentais de uma educação que contribua para quebrar o encanto do desencanto, para nos livrar da resignação, para recuperar ou para construir nossa consciência em critérios de igualdade de justiça, uma sociedade na qual a proclamação da liberdade individual não questiona os direitos e a felicidade de todos. Uma sociedade em que a diferença seja uma possibilidade para a construção de nossa autonomia, não o argumento para legitimar injustas desigualdades econômicas, sociais e políticas (GENTILI, 2003, p. 54).

A escola ao trabalhar com a diferença contribui para a construção de uma sociedade mais igual, onde o preconceito será menor, a discriminação será pouco ou nenhuma, a intolerância será trabalhada dia a dia, o que Pacheco (2007, p. 81) reforça dizendo a escola é um espaço sociocultural em que as diferentes presenças se encontram.

A escola como se sabe onde existem diferentes tipos de alunos, não só aqueles com necessidades educacionais especiais, mas, todos os alunos são diferentes, cada um tem um jeito de ser, de aprender, de conviver, mas todos com o mesmo objetivo, o de aprender.

Um dos benefícios que a inclusão traz à comunidade escolar é viver a experiência da diferença. A inclusão possibilita aos que são discriminados pela deficiência, pela classe social ou pela cor, que assim exerçam a sua cidadania e ocupem o seu espaço na sociedade. Não se pode ter um lugar no mundo sem considerar o do outro, respeitando o que ele é ou que ele pode ser (MANTOAN apud CAVALCANTE, 2005, P. 109).

Sabe-se que o processo de inclusão não é passo fácil, incluir requer amor, é um processo difícil, mas não impossível. Ele é possível a partir do momento que o professor estiver aberto para as mudanças que ocorrem dentro da sala de aula.

É extremamente fundamental que se efetive a inclusão de alunos portadores de necessidades educacionais especiais nas escolas regulares, nessa inclusão também é essencial que os pais façam parte de todo o processo, que eles participem de todo o progresso e desenvolvimento da criança, dando a eles também oportunidade de descobrir novas formas de lidar com o filho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inclusão cresce a cada ano e, com ela, o desafio de garantir uma educação de qualidade para todos. Na escola inclusiva, os alunos aprendem a conviver com a diferença e se tornam cidadãos solidários. Para que isso se torne realidade em cada sala de aula, a formação, a preparação e a participação do professor são essenciais.

Receber uma criança com necessidades especiais, pela primeira vez, pode ser angustiante. Com essa grande responsabilidade é natural que o professor se sinta perdido e confuso. Em geral, os sentimentos de inadequação têm origem no fato dos professores não serem formados para conviver com as diferenças, mesmo existindo uma disciplina nos currículos dos cursos de Pedagogia. O presente estudo pôde constatar o despreparo do professor, que já atua na educação inclusiva, com relação aos conteúdos teóricos e práticos necessários e o treinamento adequado para um bom desempenho nesta modalidade de ensino.

A reflexão acerca da formação de professores para a atuação na perspectiva da educação inclusiva assume posição de destaque nas abordagens que propõem redimensionar o trabalho docente, ultrapassando a visão de um ensino e um espaço que se organiza com base na deficiência, passando a pensar uma educação geral que inicia por anular as formas excludentes de organização de sistemas paralelos de ensino e impulsiona as transformações no âmbito da escola pública.

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